Sarau

 A poesia de Alen Guimarães
                               "O Poeta dos Ventos"

Antes de mais nada, eu diria que Alen Guimarães, é um poeta que não cabe dentro dos limites de sua grande poesia e sensibilidade. E um livro de Alen torna-se, por si só, um preito à solidariedade, um chamado poético aos amigos. Incansável versejador, pretenso reformador do mundo, místico meio desligado das coisas terrenas, irrecuperável gerador de sonhos, sua trajetória é determinada pela convicção de ser poeta. E - disso eu tenho hoje a mais cristalina certeza - nada será capaz de afastar Alen Guimarães da trilha que o Poeta dos Ventos se propôs a seguir. Mas, se Alen Guimarães é único, próprio e pessoal, também é visível que se trata de um ser universal e extremamente gregário, e talvez isso o distinga tanto quanto os versos inspirados que produz em suas líricas e sentidas divagações. A poesia de Alen nunca está sozinha, porque ele atrai talentos e vive cercado de poetas de todas as idades e tendências. Essa faina incessante, essa ânsia de aproximar criadores de versos e suas criaturas literárias, isso, afinal, produz um mundo diferente e traduz uma Brasília idealizada, que materializa, de certa forma, minha louca utopia de concebê-la como futura Capital da Paz.

Depois de frequentar os saraus do Guará, percebi que Alen poderia ser mais velho e mais sábio do que eu, que tenho o dobro da sua idade cronológica. Há nele atitudes de tolerância e respeito humano que certamente não seriam típicas de um jovem com pouco mais de vinte anos, e que tantas vezes haviam faltado a mim próprio, um casmurro e empedernido sessentão, gondoleiro perdido nas vielas hídricas da Grande Poesia. Alen, simples como os ventos, vive com fluidez, chega fácil à naturalidade que eu gostaria de ter, vê e ouve qualquer de seus irmãos poetas com o carinho que merece a arte, quando cantada ou declamada com emoção e sentimento. Como Raul, Alen nasceu há dez mil anos atrás, e chega agora para ajudar-nos a encontrar a trilha da Poesia essencial, o canal límpido e cristalino onde um dia (quem sabe?) iremos remar com a grandeza, a dimensão humana, a beleza e a tolerância dos verdadeiros poetas

Tive a felicidade de perceber esse fato, e tornei-me não o “pai musical” ou o “tio poético” de Alen, mas um companheiro de travessia, mais um remo bem-vindo na gôndola da Poesia do Guará. É dessa viagem privilegiada que venho convidá-los a também participar, tocados pelos ventos das estrofes deste “Mosaico dos Sonhos”. Boa viagem, Leitores! E muito bom proveito!!”



Maresia

Vim para ficar
no teu desejo de mar,
onde as ondas vão e vem
na beira-mar.

       Vêm dizer que sabe.
       Quem sabe?!!
       Se a onda de viver
       É viver em marinas
       que florescem ao amanhecer,
       vim para ficar contigo,
       para ouvir teu canto amigo,
       para em teus braços...
      desabafar o doído.

Um amor doente... louco.
Um desejo de te abraçar com todo o gosto...
O próprio desejo de te tocar
e sentir o prazer do amar...

       Vim para ficar
       no teu desejo de mar,
       onde os sons se elevam...
       Vão e vêm na beira-mar.

Vem dizer o que sabes...
Quem sabe
se a arte de nascer
É viver em marinas
que florescem ao amanhecer?

       Te amar...
       E contigo ter a oração
      de um eterno amor que nasceu
       nesta mera época de poluição...

Não se faz amor com o sonho,
não se vÍ felicidade eterna no desejo,
não se crê no certo...

       O amor deixou de ser
       corredeira de rio...
       passando a ser...
       um nevoeiro esquisito...



Arvirtua

As árvores se despem
de um tempo passado,
de onde querem
um tempo sem atraso.

O começo arvirtuoso
de um dia incomum.
É que nasce um rosto
em tempo algum.

Se os dias são os mesmos,
tenho que correr.
Não existe contratempo,
em um certo momento... irei morrer.

Deixarei meu gosto...
Em chuvas e temporais,
o mundo nos olha!
Somos todos iguais.

A vida passa lá fora,
eu olho pela janela.
Existe talvez, agora,
uma porta entreaberta.

Passarei por cálidos tempos,
aprenderei a viver.
Temos sofrimentos...
para um dia amadurecer...

Lembranças

Vivo sozinho!
Estou sempre a lembrar.
Já se foram!
Meus amores e amigos.
Fico a contemplar...

As fotografias felizes...
Todas empoeiradas.
Fico em dúvida...
Será esta a minha estrada?
Isto foi um sonho?
Às vezes, sinto-me infeliz,
quebram-se os encantos...

Quero ouvir as vozes...
A casa em festa,
não parávamos de dançar.
No lugar da tristeza, havia vida!
Para nuances do amar.

Hoje, o que vejo
são portas que rangem...
presas ao momentâneo tempo...

Vejo um hoje,
com flores de um ontem,
com perfumes de um amanhã...

Mas o que tenho...
são folhas secas,
que o outono trouxe...