Um circo que estava de passagem pelo município de Tucumã, no Pará, entregou três leões adultos a uma equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo os fiscais, a entrega dos animais – dois machos e uma fêmea – ocorreu no dia 5 de junho e foi espontânea. A doação foi divulgada pelo Ibama nesta sexta-feira (12)
De acordo com o Chefe da Fiscalização em Marabá, Gudmar Dias, a doação ocorreu pela falta de estrutura do circo em cuidar dos animais. O Ibama providenciou máquinas e recursos necessários para transferência dos leões para Parauapebas (PA), onde permanecem para receber cuidados de veterinários.
No circo, o leão não é rei -Uma fera no círculo de fogo. Um rugido poderoso. E, no fim de cada espetáculo, uma pergunta: circo é lugar de bicho? Dois estados já proibiram espetáculos com animais: Rio de Janeiro e Pernambuco. E outras 50 cidades brasileiras também aprovaram leis municipais proibindo a entrada de circos que têm bichos como artistas. O argumento principal: maus tratos e abandono.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) chega a recolher um leão por mês. "O circo vem, pára na cidade, vai embora e deixa a carreta com os animais", diz o chefe de fiscalização do Ibama, Roberto Cabral Borges.
"Antes de Cristo, já existiam animais de circo. O circo é uma arte milenar, é a cultura mais antiga do mundo. Tudo surgiu do circo", defende o dono do Circo Moscou, Jorge Fumagali.
"O legal do circo são as artes cênicas. É humano divertindo humano, aquele pessoal que fica lá treinando horas para apresentar o que de melhor é capaz de fazer", avalia a fundadora do Rancho dos Gnomos, Sílvia Pompeu.
Roberto Cabral Borges conta que cinco leões chegaram em uma carreta dividida. "Isso significa que o espaço para eles era mínimo. Inclusive, um dos animais teve problema de coluna por não conseguir se movimentar dentro do espaço no qual ele era confinado", afirma.
Destino final - Sem saber o que fazer com os bichos, o Ibama os levou para o Zoológico de Brasília. O leão vovô tem artrose e um enorme calombo nas costas por causa de anos de confinamento e maus tratos.
"Ele tem a coluna toda torta, tem dificuldade para apoiar as patas ao levantar e bastante dificuldade na hora de comer. Inclusive, ele pisa sentido no chão porque tem dor nas articulações. Ele engordou o dobro e agora está muito bem", diz a diretora de pesquisa do Zôo de Brasília, Tânia Junqueira Borges.
Os donos do Circo Moscou, um dos mais tradicionais do Brasil, dizem que os bons estão pagando pelos maus. "A primeira coisa que as pessoas perguntam é: 'Os bichos vão trabalhar hoje?'. Se a resposta for não, dizem que o filho queria ver os animais e aí vão embora", conta o dono do Circo Moscou, Charleston Monteiro. Ele mostra seus animais e diz que não são mais usados no espetáculo. Mas um babuíno, um leão, um tigre, um urso e um avestruz continuam acompanhando o deslocamento da trupe dentro de pequenas jaulas.
"Eles não vivem sem a gente. A gente acorda de manhã para dar comida, e ele já vem correndo na jaula. Como é que você vai pegar e simplesmente soltar, entregar para uma ONG?", questiona Charleston Monteiro, para quem o tamanho da jaula do leão é ideal. "São 20 vezes o tamanho linear dele. Como é que você vai carregar uma jaula de 100 metros? Eles nem andam porque nasceram aí. Lion nasceu no circo e está com 15 anos. Uma coisa engraçada: quando tocamos a música de trabalho deles, ficam todos agitados. Eles já se acostumaram, tanto o babuíno como o leão".
Vida de circo -A ursa Fofa mora numa jaula. Ao lado dela, Charleston Monteiro reclama dos ambientalistas. Diz que eles denunciam maus tratos e falta de espaço, mas não querem receber os animais. "Tenho 22 leões para doar, mas as ONGs não querem", diz o dono do circo.
De repente, Charleston Monteiro é atacado por Fofa. "Ela achou que estávamos brigando. Ela não me atacou, ela tentou me puxar para pegar você", alega.
O fato é que os 22 leões que Charleston Monteiro diz ter realmente não têm destino. Existem mais de cem leões abandonados no Brasil. Mesmo os que o Ibama leva para os zoológicos ficam instalados precariamente.
"Isso não é definitivo. Até porque isso aqui não é o ideal para o animal. É muito melhor que uma carreta. Quanto a isso, não resta dúvida. Agora, o ideal seria um recinto grande, onde ele pudesse brincar", diz Tânia Junqueira Borges.
Nem o Ibama sabe o que fazer com essa quantidade enorme de grandes felinos apreendidos, abandonados, espalhados pelo Brasil. Um leão precisa de muito espaço para ter boa qualidade de vida. Existem pouquíssimos lugares preparados para receber esses animais.
Do G1, em São Paulo
Fotos: Rômulo Neto/Ibama-PA e site do Zoológico de Brasília
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