Com incontáveis benefícios, o babaçu, fruto de uma palmeira de crescimento espontâneo abundante na Amazônia, produz um óleo que pode ter potencial energético para substituir o uso do petróleo e do diesel em uma cidade inteira. Só no município de Barreirinha (a 331 quilômetros) de Manaus, são 3 milhões de árvores da espécie, com produção de 200 quilos de frutos por planta.
Este número, segundo o agrônomo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Luiz Antônio de Oliveira, aponta para a alternativa do uso da biodiversidade. Com o intuito de descobrir tais potenciais, além da utilização dos resíduos de madeira para produção de álcool, Oliveira submeteu, com sucesso, o projeto “Aproveitamento de resíduos de madeiras e avaliação do potencial de espécies florestais para a produção de biocombustíveis”, ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias para a produção de Biocombustíveis no Estado do Amazonas (Biocom).
O Programa, viabilizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), destinou mais de R$260 mil em recursos para o grupo de pesquisadores, contemplados no edital 009/2009.
Rico da raiz às folhas, o babaçu serve de matéria-prima também para a fabricação de cestos, esteiras, janelas, gaiolas, entre outros. “O que mais tem na Amazônia é resíduo vegetal e de madeira. Estamos estudando as espécies que podem servir de matéria-prima para a produção de biocombustível. Usando esses micro-organismos, aproveitamos os resíduos que muitas vezes ficam como contaminantes ambientais”, destacou o pesquisador.
Em parceria com a especialista em palmeiras e coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Botânica do Inpa, Ires Paula de Andrade Miranda, Oliveira quer oferecer ao final do projeto produtos que possam, a partir do biocombustível, gerar desde energia até o álcool volátil para a utilização no setor de cosméticos.
Caso sejam identificados o tipo e a concentração do álcool, a palmeira poderá servir para utilização em cosméticos sendo um resultado secundário do projeto que trará autossuficiência para o Amazonas, que hoje, segundo o pesquisador, importa a matéria-prima. “Não é difícil para nossa pesquisa. Podemos descobrir o tipo de álcool e trazer condições para que o produto seja fabricado aqui, evitando a importação e reduzindo os custos para praticar um preço competitivo”, avaliou.
Palmeiras
Para a pesquisadora Ires Miranda, o Programa Biocom é uma excelente oportunidade de criar situações para explorar o aproveitamento das palmeiras e gerar renda para moradores de municípios onde as espécies se desenvolvem em grande quantidade. “Fizemos um levantamento da ocorrência de palmeiras em áreas degradadas. É uma forma de evitar novos desmatamentos, já que os homens do campo podem trabalhar com essa diversidade sem precisar desflorestar novamente. A ideia é essa”, projetou.
Com aproximadamente dez anos de experiência, trabalhando com observação da ocorrência dessas espécies em regiões de alto desmatamento, como o sul do Pará, além de estudos em Roraima, foi identificada a facilidade das palmeiras em se desenvolver nas áreas alteradas.
“Descobrimos, também, que estudiosos de grandes programas para a produção do biodiesel escolheram espécies já melhoradas e utilizadas na Europa, com boa aceitação no sudeste brasileiro e no Mato Grosso, como a soja e outras espécies introduzidas, além da cana para a produção de álcool” ressaltou.
Ires enfatiza a importância das palmeiras como potencial para produção de biocombustível em muitas comunidades, citando exemplos de trabalhos iniciais em Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus). “Contamos todas as palmeiras e percebemos maior participação do açaí, então fizemos um plano piloto e o doutor Luiz Antônio me convidou para fazer um inventário nos interiores. Já trabalhamos em vários municípios”, disse.
O foco da pesquisa é movimentar esse mercado e efetivar a inclusão social nas localidades. Caso a equipe consiga comprovar cientificamente o potencial do babaçu para produção de óleo diesel, de acordo com o doutor Luiz Antônio de Oliveira, existe a possibilidade de abastecer com essa energia se não uma cidade, mas uma vila inteira. “Se houver boa densidade de planta por hectare penso que dá para substituir totalmente o diesel, além de gerar emprego, porque terá o catador de babaçu, o intermediário para levar à termoelétrica”, projetou.
muito bom. parabéns, pela matéria!
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