sábado, 16 de abril de 2011

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Por Luiz Antônio Simas, mestre em História Social pela UFRJ

Chegamos ao limite da insanidade do politicamente correto.

Soube que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação foi comovente: a briga entre o cravo e a rosa estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro? É Villa Lobos, cacete!

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichos.

Quem entra na roda, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar o sentido da desigualdade social.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto - de afrodescendente. O branquelo - o famoso Omo total de cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. O gordo, outrora rolha de poço e Orca baleia assassina é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais. Não dá. Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

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