quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Programa Água Doce inaugura novas unidades no semiárido nordestino

Até 2014 serão implantados 1,2 mil sistemas de dessalinização que vão beneficiar 500 mil pessoas da região com acesso à água potável.



No início de 2012, as famílias do assentamento Patativa do Assaré vão beber, pela primeira vez, água potável dessalinizada e produzir peixe na região semiárida pernambucana. Para isso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conjunto com a Prefeitura de Ouricuri, as Embrapas Semiárido e Meio Ambiente e a Associação Técnico-Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior (Atecel) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), iniciou na última terça-feira (25/10) a instalação de uma Unidade Demonstrativa (UD) do Programa Água Doce na comunidade.

As equipes dos órgãos envolvidos no programa estão na região para demarcar a área de dois hectares na qual será instalada a UD. Patativa do Assaré integra os 982.563,3 quilômetros quadrados (11% do total do território nacional) do s emiárido brasileiro, local de água escassa e salobra, com solo formado por rochas de cristalino, cuja rigidez muitas vezes impede a perfuração de poços para retirada do mineral e favorece a desertificação do solo. Situado a 200 km de Petrolina e a 12 de Ouricuri, o assentamento vai abrigar uma UD completa, que deverá ficar pronta em três meses.

A coordenadora de Convênios da Prefeitura de Ouricuri, Valdenora Freire, disse que a UD do assentamento beneficiará uma comunidade que sofre para obter água potável. Segundo ela, na região há, ao todo, 22 assentamentos e uma população de 67 mil habitantes. "Lideranças de vários assentamentos vieram à Prefeitura pedir ao governo para implantar UDs em suas comunidades", informou. A iniciativa, que faz parte do Programa Água para Todos do Plano Brasil Sem Miséria, assumiu a meta de aplicar a metodologia do programa na recuperação, implantação e gestão de 1.200 sistemas de dessalinização até 2014 e beneficiar, com isso, 500 mil pessoas, com investimentos de R$ 168 milhões.

Para cumprir a meta, novas unidades serão inauguradas a partir do próximo mês. Cinco estão prontas. A previsão é de que entrem em operação ainda este ano, para beneficiar mais de mil
habitantes do semiárido nordestino. Na comunidade Calumbi, com 500 habitantes e situada em Tauá, Ceará, será inaugurada uma UD. Nos municípios paraibanos de Aroeiras e Sumé, mais duas: uma UD na comunidade de Cachoeira Grande e outra na de Tigre.

No semiárido pernambucano, serão inauguradas mais duas UDs: uma na Agrovila 08 DNOCS e outra na comunidade de Atalho. As comunidades abrigam cerca de 500 habitantes e estão situadas, respectivamente, em Ibimirim e em Petrolina. Ao todo o governo investiu  R$ 600 mil na construção dessas cinco UDs. Foram financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com exceção da unidade da comunidade de Atalho, financiada pela Fundação Banco do Brasil.

Ouricuri - A unidade de Patativa do Assaré vai ocupar dois hectares de um espaço coletivo do assentamento do Incra e seu poço deverá produzir uma vazão de mais de cinco mil litros por hora. De acordo com o diretor do Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas da
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do MMA, Renato Ferreira, o assentamento Patativa do Assaré é um dos poucos locais do semiárido pernambucano com todas as condições previstas no Programa Água Doce para instalação de um sistema produtivo integrado completo.

"Além de apresentar todas as características exigidas o poço do assentamento tem uma vazão acima do mínimo recomendado de 2 mil litros por hora; qualidade química adequada do  concentrado da dessalinização; solo com propriedades compatíveis com o sistema de irrigação da erva sal (textura, profundidade, relevo/declividade); disponibilidade de área para implantação do sistema (com titularidade pública); presença de exploração pecuária (caprinos/ovinos); presença de comunidade com experiência cooperativa", disse.

Segundo ele, as UDs são uma forma de gerar água potável, aumentar a segurança alimentar com a produção da tilápia e o aumento de renda com a engorda do gado ovino e caprino que será alimentado com a forrageira erva-sal - planta típica da Austrália introduzida no processo de dessalinização da água e preservação do solo.

Como funciona  - O sistema produtivo é formado por dois viveiros para criação de tilápia, um tanque para reciclagem do concentrado enriquecido em matéria orgânica (um hectare) e uma área irrigada para cultivo da erva-sal (um hectare), além de uma área para a fenação. A
água subterrânea salina é captada de um poço tubular profundo e armazenada em um reservatório de água bruta. Em seguida passa pelo dessalinizador, que por meio da osmose inversa separa o sal da água que será potável.

Diferentemente do que ocorre comumente na região do semiárido, em que a água é retirada dos poços e, depois de usada, lançada no solo sem nenhum tratamento e, com isso, favorecendo cada vez mais a salinização e a desertificação da região, o uso do dessalinizador faz o contrário: ele dessaliniza a água e recicla o rejeito produzido pelo sistema de abastecimento.

De acordo com o método, água salgada é usada como adubo e alimento e a dessalinizada é usada no consumo diário pela população e para irrigação. No processo, metade da água retirada é dessalinizada e armazenada num reservatório de água potável e a outra metade se torna um concentrado salinizado que é enviado a tanques de criação de tilápia - peixe que se adapta com facilidade tanto à água doce como à água salgada. Periodicamente a água desses tanques é trocada e esse rejeito, em vez de ser lançado no solo, é enriquecido de matéria orgânica e aproveitado na agricultura.

Por Maria Carla Borba da Ascom do Ministério do Meio Ambiente

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