Crianças param em frente ao ponto de ônibus colorido, encantadas. Identificam-se com os tons da pintura em grafite. Além de desenhos que parecem ter vida, há livros ali. Estão pendurados como se fossem roupas, em um varal. Os exemplares quase se perdem em meio aos traços feitos com spray. Mas são percebidos por pessoas de várias idades que passa todos os dias por ali.
O ponto de ônibus cheio de cultura fica no Paranoá, na praça da Quadra 21, na avenida principal. A instalação faz parte do projeto Varal Cultural, uma parceria entre uma organização não governamental (ONG), a diretoria regional de ensino e a administração da cidade. Os organizadores querem pintar todas as 30 paradas da região e abastecê-las com livros.
Ontem, a iniciativa foi divulgada oficialmente. Os livros, porém, já estão expostos há uma semana. Nesse período, pelo menos 85 foram emprestados. Há outros 20 à disposição. Há títulos de literatura, autoajuda e assuntos técnicos. Em breve, haverá mais. Os idealizadores querem enriquecer a biblioteca de rua. Para isso, vão precisar de doações. A ideia é inspirada na iniciativa do açougue cultural T-Bone, que, há quatro anos, expõe livros distribuídos em estantes, nas paradas de ônibus de Brasília.
Gabrielly dos Santos Oliveira (D) é uma das entusiastas: "A gente fica um tempão esperando ônibus. É um ótimo momento para leitura" A cuidadora de idosos Erilene Sena Xavier, 32 anos, adquiriu o hábito da leitura ao pegar livros emprestados em paradas do Plano Piloto. Moradora do Paranoá, agora ela vai cultivar o gosto mais perto de casa. “A parada é, definitivamente, um bom lugar para chamar a atenção das pessoas para a cultura. Você pega um livro, olha outro, folheia. Quando vê, já fez disso um costume, não fica sem”, afirmou.
Espera
A vendedora Sâmia Cristina da Silva, 23 anos, apoiou a iniciativa. “Eu não tenho hábito de ler, mas com esses livros, fica mais fácil. Ainda não peguei nenhum porque chego em cima da hora na parada.” Gabrielly dos Santos Oliveira, 19 anos, moradora do Itapoã, invejou a iniciativa. Onde ela vive, não há sequer paradas, muito menos livros espalhados pelas ruas. “A gente fica um tempão esperando ônibus. É um ótimo momento para leitura. Aqui as pessoas vão ler mais, com certeza.”
A estudante Alessandra Ferreira, 28 anos, moradora do Varjão, tem o costume de pegar livros emprestados na parada. Garante devolvê-los sempre. “Conheci esse modelo de biblioteca na Asa Norte. Fiquei feliz por ver em outro lugar agora. Adoro principalmente livros sobre autoajuda, que incentivam a gente a ser melhor”, relatou.
O estudante Gildemar Ferreira, que vive no Paranoá, admirou a iniciativa e comparou o projeto a iniciativas bem-sucedidas fora do Distrito Federal. “No Rio de Janeiro tem livros em todo canto, até nas árvores. Eu escolho sempre os títulos relacionados a psicologia, para me aperfeiçoar na profissão”, contou. “Os romances são os melhores. Adoro ler. Acho bacana incentivar esse hábito de maneiras mais populares”, complementou Cristiane Carine, colega de Gildemar.
Acesso à cultura
A ONG Eco 5 apresentou o projeto do Varal Cultural — já existente em outras capitais — à administração regional, que captou apoio e doações. O grupo é classificado como uma organização da sociedade civil de interesse público e mantém iniciativas relacionadas à preservação do meio ambiente e ao incentivo à leitura.
“O varal é uma oportunidade de acesso à cultura e à informação. Tem toda uma questão social por trás do conhecimento. É uma forma de transformação social”, explicou o colaborador da ONG Juliander Alves Ferreira, 24 anos. “A recepção foi maravilhosa. Acredito que não vamos ter problemas para repor os livros nas paradas, porque temos bons parceiros, dispostos a doar sempre”, comemorou.
Leilane Menezes
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