A facilidade em encontrar essas obras na internet e na livraria atrai os leitores
A maioria dos frequentadores das salas de cinema prefere ver os filmes prediletos na língua original. Os argumentos vão da má qualidade da tradução até a possibilidade de praticar um idioma estrangeiro. Esse hábito de consumo de bens culturais não se limita ao vídeo e começa a se reproduzir um território novo: os livros. Quem dá uma espiada nas livrarias da cidade pode notar que as prateleiras com obras em inglês, espanhol, francês, alemão e outros estão cada vez mais cheias. O sucesso é tanto que alguns brasilienses já adotam a prática de somente ler livros na língua original.
Os benefícios são diversos. Do ponto de vista intelectual, o leitor aprende mais sobre o idioma — adquirindo vocabulário e familiaridade com o texto escrito. Outras vantagens são o preço e a agilidade. Em geral, as obras em língua estrangeira são mais baratas e chegam às livrarias antes das versões traduzidas. Atualmente, com a internet, é possível adquiri-las em sites internacionais especializados e recebê-las em casa.
A estudante Marina Adorno, 18 anos, começou a ler em inglês — a primeira obra escolhida foi Confessions of a shopaholic, de Sophie Kinsella — para melhorar a escrita no idioma. Dois anos depois de ter terminado o curso, ela sentia a necessidade de praticar e voltar a ter contato com a língua. Após a primeira leitura, a jovem não parou mais. “Estou tornando isso um hábito. No começo, tinha medo de ter que recorrer muito ao dicionário, mas depois percebi que não precisava tanto. Hoje, prefiro ler o original”, conta.
A amiga Manuela Fleury, 17 anos, iniciou na leitura em língua original por conta do tédio. Em 2010, enquanto morava na Austrália, em momentos de desocupação, aproveitou para treinar o idioma com a leitura da série Harry Potter. Aquilo que era um hobby virou uma rotina e ela começou a procurar os romances adolescentes de sua preferência. “Quando vou às livrarias, fico procurando obras que me interessam. Às vezes, leio o primeiro volume de uma série em português, mas, se ela não faz sucesso, as editoras param de traduzir, então eu começo a ler em inglês mesmo”, explica.
O critério econômico chamou atenção da universitária Natália Emerim, 24 anos. Ao comprar o livro Pet Sematary, de Stephen King, em inglês, ela pensava no preço. A edição era em papel reciclado e saia mais em conta que a versão traduzida. Depois, passou a pesquisar em sites estrangeiros por obras usadas e não parou mais. “Acho que aproveitar um livro no seu idioma original é melhor, porque você lê as palavras que o autor realmente escreveu. Em inglês tem uns trocadilhos que perdem a graça quando traduzidos.”
Profissional e pessoal
Os professores Déborah Dutra, 40 anos, e Evandro Gurgel, 26 anos, desenvolveram o hábito quando começaram a estudar a língua. Além da melhora do idioma, os dois hoje admitem que têm dificuldades em ler traduções. “Recentemente, eu comprei o livro Vendedor de armas (do Hugh Laurie) e não consegui ler. Parei no meio. Agora, estou procurando a versão em inglês”, diz Déborah. Para ela, o processo de leitura pode ser irritante ao extremo se a versão for ruim. “Quando você percebe problemas de tradução, o prazer fica reduzido. A coisa fica meio atravancada”, justifica.
Desde 2003, Evandro lê em inglês. No começo, o intuito era melhorar a fluência nos idiomas estrangeiros, além de serem mais baratos. Foi durante a leitura de uma coletânea de contos de Edgar Allan Poe que ele se deu conta de que tinha atingido um bom nível de leitura. De lá para cá, praticamente abandonou as versões traduzidas. “Tenho muito mais prática de leitura em inglês do que em português. Há oito anos que eu quase só leio em inglês.”
Onde comprar?
Além das tradicionais livrarias, os livros estrangeiros podem ser facilmente adquiridos na internet. Sites como Amazon e eBay têm títulos em inglês, espanhol, francês e alemão. No entanto é preciso comprar em dólar e pagar taxa de entrega internacional. Outra página usada é Bookdepository, que tem um bom acervo e não cobra para trazer ao Brasil. O problema, em todos os casos, é o longo tempo de espera, cerca de um mês.
Por Luiz Prisco - Correio Braziliense
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