Nei Lopes participará de um bate-papo sobre a influência da cultura negra na atual produção musical brasileira
É de Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, de onde vem Nei Lopes, músico, historiador e escritor, que deixou de lado os carnavais no Salgueiro e na Vila Isabel para se aventurar em um bloco de rua em Piraí, município localizado no Vale do Médio Paraíba, também no Rio. Cantor e compositor, Nei é um dos responsáveis pela exaltação da cultura negra na música popular brasileira, com seus textos e canções com temática afro. Com todo o seu samba na veia, Nei Lopes vem a Brasília para abrir o projeto Conexão África Brasília, nesta quinta-feira (3/11), na Sala Cássia Eller, da Funarte. A programação também conta com shows das cantoras brasilienses Cris Pereira, Ligiana Costa, Renata Jambeiro; da goiana Camilla Faustino e da carioca Zezé Motta, que encerra o evento dia 25.
Ao lado de Wilson Moreira, Nei Lopes deixou na história um dos álbuns mais importantes da música brasileira: Ao povo em forma de arte. O trabalho, com um repertório centrado na africanidade, impulsionou projetos literários. "Comecei exatamente refletindo sobre o samba e depois enveredei para outros caminhos, com ensaios, ficções. Nos meus romances, o universo do samba se entrecruza muito bem com o universo da história, da África, e eu acho isso saudável", comenta.
O compositor carioca observa que o brasileiro não consome literatura nacional. De acordo com Nei, nas relações dos livros mais vendidos não há títulos brasileiros, mas que, agora, acontece algo interessante: o aumento da venda das obras paradidáticas. O motivo seria a lei 10639/03, que institui o ensino da história da África e dos africanos no currículo escolar. "Vivemos num momento de muitas influências de determinadas correntes religiosas que demonizam a cultura africana e a cultura afro brasileira e isso é muito sério. Dentro das próprias escolas publicas há resistência", argumenta o vencedor do Jabuti (2009), com História e cultura Africana e afro-brasileira, na categoria paradidáticos.
Quilombo
Insatisfeito com os rumos que as escolas de samba estavam tomando no início da década de 1970, o mestre Candeia decidiu fundar o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. "O espetáculo, as questões mercantilistas se sobrepuseram à valorização das comunidades", lembra Nei Lopes, sobre o período pós golpe de 1964 e em plena ditadura.
"O Quilombo foi uma entidade do movimento negro que tinha uma faceta de escola de samba em um determinado momento porque, durante o resto do tempo, se dedicava a projetos de inserção, tendo a cultura negra como meio condutor. E isso foi muito bom, pena que durou pouco. O Quilombo foi criado em 1975 e terminou em 1978, com a morte prematura do Candeia. Ele era uma liderança muito forte e ainda tentamos manter alguma coisa, mas não conseguimos", constata.
As transformações chegaram a um ponto que faltam negros nas agremiações. De acordo com Ancelmo Gois, a Beija-Flor quer mostrar a influência da cultura africana em São Luís, em 2012, mas não tem contigente necessário. Para Nei Lopes, "a presença do negro ficou simbólica". "O samba como um universo de cultura negra foi desconstruído e os meios de comunicação têm uma culpa muito grande sobre isso. Eles o reduzem como um gênero música que toca somente durante o carnaval. Não há uma valorização do samba como arte de permanência e de efervescência durante o ano inteiro", completa.
Música negra brasileira
Pouco antes da segunda apresentação em Brasília, nesta sexta, às 18h, Nei Lopes participará de um bate-papo sobre a influência da cultura negra na atual produção musical brasileira com o brasiliense DJ Pezão. "A influência da música africana já se diluiu porque ficou brasileira. A grande matriz da nossa música na África está em Angola e no Congo, mas também há a vertente que está na África Ocidental que tem muita força na Bahia. Essa marca ficou sendo a mais forte e está aí até hoje, nos axés da Ivete Sangalo, no ritmo de Timbalada, no som de Carlinhos Brown. É uma africanidade que está mais perceptível", adianta o cantor carioca.
Por Gabriela de Almeida e Maíra de Deus Brito
É de Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, de onde vem Nei Lopes, músico, historiador e escritor, que deixou de lado os carnavais no Salgueiro e na Vila Isabel para se aventurar em um bloco de rua em Piraí, município localizado no Vale do Médio Paraíba, também no Rio. Cantor e compositor, Nei é um dos responsáveis pela exaltação da cultura negra na música popular brasileira, com seus textos e canções com temática afro. Com todo o seu samba na veia, Nei Lopes vem a Brasília para abrir o projeto Conexão África Brasília, nesta quinta-feira (3/11), na Sala Cássia Eller, da Funarte. A programação também conta com shows das cantoras brasilienses Cris Pereira, Ligiana Costa, Renata Jambeiro; da goiana Camilla Faustino e da carioca Zezé Motta, que encerra o evento dia 25.
Ao lado de Wilson Moreira, Nei Lopes deixou na história um dos álbuns mais importantes da música brasileira: Ao povo em forma de arte. O trabalho, com um repertório centrado na africanidade, impulsionou projetos literários. "Comecei exatamente refletindo sobre o samba e depois enveredei para outros caminhos, com ensaios, ficções. Nos meus romances, o universo do samba se entrecruza muito bem com o universo da história, da África, e eu acho isso saudável", comenta.
O compositor carioca observa que o brasileiro não consome literatura nacional. De acordo com Nei, nas relações dos livros mais vendidos não há títulos brasileiros, mas que, agora, acontece algo interessante: o aumento da venda das obras paradidáticas. O motivo seria a lei 10639/03, que institui o ensino da história da África e dos africanos no currículo escolar. "Vivemos num momento de muitas influências de determinadas correntes religiosas que demonizam a cultura africana e a cultura afro brasileira e isso é muito sério. Dentro das próprias escolas publicas há resistência", argumenta o vencedor do Jabuti (2009), com História e cultura Africana e afro-brasileira, na categoria paradidáticos.
Quilombo
Insatisfeito com os rumos que as escolas de samba estavam tomando no início da década de 1970, o mestre Candeia decidiu fundar o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. "O espetáculo, as questões mercantilistas se sobrepuseram à valorização das comunidades", lembra Nei Lopes, sobre o período pós golpe de 1964 e em plena ditadura.
"O Quilombo foi uma entidade do movimento negro que tinha uma faceta de escola de samba em um determinado momento porque, durante o resto do tempo, se dedicava a projetos de inserção, tendo a cultura negra como meio condutor. E isso foi muito bom, pena que durou pouco. O Quilombo foi criado em 1975 e terminou em 1978, com a morte prematura do Candeia. Ele era uma liderança muito forte e ainda tentamos manter alguma coisa, mas não conseguimos", constata.
As transformações chegaram a um ponto que faltam negros nas agremiações. De acordo com Ancelmo Gois, a Beija-Flor quer mostrar a influência da cultura africana em São Luís, em 2012, mas não tem contigente necessário. Para Nei Lopes, "a presença do negro ficou simbólica". "O samba como um universo de cultura negra foi desconstruído e os meios de comunicação têm uma culpa muito grande sobre isso. Eles o reduzem como um gênero música que toca somente durante o carnaval. Não há uma valorização do samba como arte de permanência e de efervescência durante o ano inteiro", completa.
Música negra brasileira
Pouco antes da segunda apresentação em Brasília, nesta sexta, às 18h, Nei Lopes participará de um bate-papo sobre a influência da cultura negra na atual produção musical brasileira com o brasiliense DJ Pezão. "A influência da música africana já se diluiu porque ficou brasileira. A grande matriz da nossa música na África está em Angola e no Congo, mas também há a vertente que está na África Ocidental que tem muita força na Bahia. Essa marca ficou sendo a mais forte e está aí até hoje, nos axés da Ivete Sangalo, no ritmo de Timbalada, no som de Carlinhos Brown. É uma africanidade que está mais perceptível", adianta o cantor carioca.
Por Gabriela de Almeida e Maíra de Deus Brito
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