quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Santuário não aceita acordo

Sobre a reportagem do G1: Nada muda pra nós. Entre os Fulni-Ô e os Kariri, sempre foram diferentes: as trajetórias; os objetivos; os advogados; os processos de luta. Santuário dos Pajés sempre foi uma referência da liderança Pajé Santxiê Fulni-Ô Tapuya.


A Terracap, a Funai e a mídia vão usar muito bem o acordo dos Kariri com a Terracap. Mas nenhuma novidade mesmo. Vai continuar distorcendo quem já vinha distorcendo. Com uma desvantagem pra eles, agora se agarrando a uma tese diferente da anterior: antes não eram índios, agora tanto são que a Terracap "vai doar" (acredite quem puder) para a União (Funai?) um terreno.

Justo no lugar previsto pro Noroeste II... (Bom, uma vez que saiam de lá, não terão mais reivindicação dentro da legislação indígena).

Entre outras, a reportagem da Revista Rolling Stones já descrevia bem essa diferença. O Sagrada Terra Especulada (documentário) já fala dessa diferença. O Laudo Antropológico já atesta que a reivindicação por demarcação é do Santuário, dos Fulni-Ô, enquanto os Kariri levantam uma reivindicação de moradia. A Ação Civil Pública, que é o que está para ser julgado pela juíza Clara da Mota, fala claramente da demanda por demarcação como sendo dos Fulni-Ô. O Ministério Público, que está movendo a ACP, reiterou ontem para o advogado mau-caráter George Peixoto, que não assinará nenhum TAC entre eles e o GDF, uma vez que o MP já está envolvido com a defesa da demarcação da Terra Indígena requerida pelos Fulni-Ô (ou seja, o "acordo" dos Kariri com a Terracap nem sequer tem a mediação do MP, que poderia comprometer mais o GDF).

Os documentos, os materiais de informação e divulgação, a atuação do Ariel, os militantes, o lema, tudo pelo que lutamos sempre teve como referência a luta e a clareza do Santuário dos Pajés, da comunidade Fulni-Ô Tapuya.

O Ariel, que é o advogado que representa voluntariamente a luta do Santuário dos Pajés assim como de alguns outros movimentos sociais, já falou expressamente que só representa a comunidade sem a hipótese de pedir dinheiro ou troca de terreno - ou seja, sem negociar a terra. Por isso está dando o sangue pelos Fulni-Ô há anos. Disse que poderia até representar os Kariri-Xocó, mas só se eles tivessem isso bem claro, como os Fulni-Ô. Porque pra negociar a terra dá pra encontrar muito advogado por aí.

Em resumo, nossa luta não muda em nada. Parte da militância que acompanha há um tempo, o Ariel e o Ministério Público (este desde que passou a atuar pela demarcação,q uando entraram a Luciana Loureiro e a Débora Duprat no caso) sempre estiveram conscientes da intenção dos Fulni-Ô de jamais aceitar troca. Até a juíza Clara da Mota já está informada e consciente disso. Entre nós, uns mais, outros menos, sempre se soube da posição politicamente menos firme dos Kariri. Por isso a referência é o "Santuário", que é a área dos Fulni-Ô, pra quem não se troca a terra.

A terra é mãe. Mãe não se troca, mãe não se vende.
Muito menos se entrega.Santuário Não Se Move!

Por Francisco Delano

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