Nesta quarta-feira, 9 de novembro, Recife receberá a solenidade de entrega das insígnias da Ordem do Mérito Cultural 2011. A cerimônia da mais alta condecoração da Cultura brasileira será realizada, este ano, pela primeira vez na região Nordeste. O palco escolhido para a festa foi o Teatro de Santa Isabel. As comendas são entregues pela Presidência da República e pelo Ministério da Cultura a personalidades, grupos de pessoas, iniciativas e a instituições que tenham prestado relevantes contribuições para a Cultura do país.
O tema da Ordem do Mérito Cultural de 2011 é a jornalista e escritora Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), mais conhecida pelo apelido de Pagu. Inquieta e de comportamento destemido, Patrícia era feminista e militante do Partido Comunista Brasileiro. Ficou conhecida como uma mulher que viveu à frente de sua época, que sempre buscou quebrar preconceitos.
A escolha de Pagu como tema da edição 2011 da OMC, segundo a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, teve o intuito de conferir uma homenagem “ a uma mulher extraordinária, raro exemplo de militância cultural, política e existencial, sempre com uma perspectiva inovadora e transformadora”.
A ministra comentou também a decisão de realizar pela primeira vez a entrega das medalhas do Mérito Cultural em um estado da região Nordeste: “a escolha de Pernambuco reforça a nossa visão da riqueza e da multiplicidade culturais do Brasil. O estado vive hoje um momento novo e especial de sua história, expressando-se com vigor nos mais diversos campos do fazer e do criar”, afirmou.
Fato inédito: dois maranhenses negros receberão a Comenda Ordem do Mérito da Cultura
João do Vale (In memorian) - Nasceu em Pedreiras, no Maranhão, a 11/10/1933. Quinto de oito irmãos ajudava em casa, vendendo balas e doces feito pela mãe. Freqüentou a escola até o terceiro ano primário, quando teve de interromper os estudos – não para trabalhar, mas para ceder lugar ao filho de um coletor recém-nomeado para trabalhar em Pedreiras.
Aos 12 anos mudou-se com sua família para São Luis e aos 14 tomou a decisão de morar no Sul – sonhava com o Rio de Janeiro. Como seus pais não o deixariam partir fugiu de trem para Teresina e arranjou emprego como ajudante de caminhão. Viajava de Fortaleza a Teresina, um dia chegou a Salvador, primeira cidade grande que conhecia, e em seguida foi para Minas Gerais. Chego ao Rio de Janeiro, de carona, aos 17 anos e foi ser ajudante de pedreiro.
Trabalhava e dormia na construção; à noite percorria as rádios na esperança de se aproximar de algum artista. O primeiro a que teve acesso foi Zé Gonzaga, que a princípio não quis ouvir suas músicas, mas, depois, gostou muito delas e gravou Cesário Pinto, que fez sucesso no Nordeste. Luís Vieira foi o segundo que João procurou, conseguiu que Marlene gravasse Estrela Miúda (de autoria dos dois).
Embora não tenha sido fácil, o início da carreira de João do Vale foi rápido, pois ele chegara ao Rio no final de 1950 e, já no ano seguinte, suas músicas começaram a ser gravadas. Em 1952, foi pela primeira vez receber os direitos autorais, surpreendeu-se com a quantia: 200 cruzeiros. Uma fortuna, para quem suava na construção por 5 cruzeiros mensais.
Além de Marlene – que gravou várias composições de João -, Luís Vieira, Dolores Duran, Luiz Gonzaga e Maria Inês também cantaram e registraram sues trabalhos com êxito.
Em 1954, participou com figurante do filme Mão Sangrenta, dirigido por Carlos Hugo Christansen, João do Vale conheceu Roberto Farias – na época assistente de direção, - que, ao se transformar em diretor, convidou o compositor para musicar alguns de seus filmes, como No Mundo da Luz, de 1958. Além disso, em 1969 ele comporia a trilha sonora de Meu Nome é Lampião, de Mozael Silveira.
Profa Claudet Ribeiro.
Dois negros que assim como Pagu, a quem o MinC homenageia, eles contrariam a ordem natural das coisas. No lugar da "presdestinação" à marginalidade como a são condenados a grande maioria do povo negro, a sabedoria, o conhecimento e a transmissão dos saberes. Dois mestres que merecem o reconhecimento do povo maranhense! Viva João do Vale! Parabéns à Profa Claudete.
Condecorações
Este ano serão concedidas 51 condecorações a representantes da Cultura brasileira, distribuídas nas categorias Grã-Cruz, que é a mais alta graduação da Ordem, Comendador e Cavaleiro. Nesta edição 18 personalidades serão agraciadas com a Grã-Cruz, 13 com a Comendador e cinco com a ordem Cavaleiro, além de 15 associações culturais e grupos artísticos que receberão a comenda da Ordem do Mérito Cultural.
Instituída pelo MinC em 1995, a OMC já concedeu mais de 500 condecorações a nomes ilustres da história e das artes brasileiras, tais como Santos Dumont (in memoriam), Bibi Ferreira, Ângela Maria, Cartola (in memoriam), Ana Botafogo, entre outros. As medalhas são direcionadas a um amplo universo temático, de forma a abranger a diversidade marcante da cultura do país. Contemplam as tradições de grupos étnicos, as expressões da cultura popular, as artes visuais, a música, a literatura, o teatro, o cinema, o design, a produção intelectual, entre outros segmentos que compõem o grande espectro cultural do país.
Por Patrícia Saldanha da Ascom/Minc e blog do Eri Castro
Fotos: Marcelo Lyra
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